Novamente as SCUT


Confesso que me irrita profundamente ouvir certos políticos a dizerem, ou a deixarem entender, que os portugueses andaram a viver acima das suas possibilidades nos últimos anos e que agora vão sofrer as consequências.

É que eu, como a esmagadora maioria dos portugueses, não andei a viver acima das minhas possibilidades. Pelo contrário, trabalhei arduamente para conseguir o pouco que consegui e só me endividei de forma moderada e realista.

Quem andou a viver acima das suas possibilidades foram os políticos que nos (des)governaram. Esses sim, não só se atribuíram benefícios que o país não podia suportar, em vencimentos, pensões, subvenções e outras coisas que tal, mas também geriram os bens públicos, o património de todos nós, de forma irresponsável e aventureira. Isto, quando não favoreceram deliberadamente as suas próprias pessoas, as suas famílias, os seus amigos e os seus seguidores.

Se famílias houve – e foram, de facto, muitas –  que ingenuamente acreditarem no mundo de facilidades com que à sua volta muitos lhes acenavam, desde governantes a empresas e instituições de crédito, a culpa foi muito menos sua do que de quem, durante várias décadas, lhes vendeu um sonho irrealizável e de quem, podendo chamá-las à realidade, permitiu que esse sonho fosse vendido.

Mas a verdade é que estamos como estamos. Os investidores deixaram de confiar no nosso país e só nos dão crédito a taxas altíssimas. Tivemos que pedir auxílio internacional e agora vamos ter que cumprir, de preferência rigorosamente, as regras que nos foram impostas para nos ser concedido esse auxílio.

Aceito, por isso, que por muito que os nossos governantes nos queiram facilitar a vida, eles estão limitados pela necessidade de respeitar o acordado com a “troika”.

Mas isto não significa que aceite que para cumprirmos as nossas obrigações tudo seja permitido.

Embora muito haja para dizer a este respeito – e eu espero voltar a este tema -hoje vou falar, mais uma vez, das SCUT.

Mesmo entendendo que têm que ser pagas, há perguntas que não posso deixar de fazer: porque é que só se dão 5 dias úteis a quem não tem identificador para liquidar as respectivas portagens? Porque é que não se podem pagar logo no dia seguinte à passagem pelo portal, exatamente aquele em que seria mais fácil lembrarmo-nos de o fazer? Porque é que só se podem pagar nas payshop e nos CTT? (com tanta sofisticação tecnológica seria certamente fácil permitir o pagamento através do Multibanco…). Porque é que as coimas por não pagamento podem atingir 50 vezes o valor da portagem sabendo-se que qualquer um pode, inadvertidamente, ir dar a uma SCUT?

O sistema que foi estabelecido é excessivamente penalizador e revoltantemente injusto. A sensação com que fica o cidadão comum é que se estão a aproveitar da necessidade de cobrar as passagens nas SCUT para roubar os condutores, ou para lhes impor, disfarçadamente, o uso do identificador, uma espécie de pulseira electrónica aplicada ao seu automóvel.

Surpreende-me, por isso, ver as associações de automobilistas, em particular o ACP – Automóvel Club de Portugal, a assistirem, praticamente caladas, à implementação deste sistema. Afinal para que existem? Só para satisfazerem, mais uma vez, os interesses de uns poucos à custa da participação de muitos?

Surpreende-me também – embora menos, dadas as circunstâncias – que os Senhores Deputados à Assembleia da República, eleitos para defender os interesses do Povo, compactuem com esta situação, limitando-se, nalguns casos, a questionar o pagamento das portagens.

Pagar, já sabemos que vamos pagar. O país, graças a muitos desses deputados, está, desgraçadamente, à beira da falência. Mas ao menos que não nos roubem!

MC900370432Cuidado, SCUT à frente!

Um comentário

  1. Filomena Malva · · Responder

    As causas de endividamento deste país estão subjacentes a projeções de sonhos de uma Europa por si mesma esgotada. Claro que, ao terem praticado políticas penalizadoras por parte de uma união em que uns são “filhos” ricos e outros pobres, levou ao descalabro de um país que tem de sujeitar à compulsão de quem governa, e refiro-me à “troika” e seus acólitos, com a intenção de sobrevalorizar os loobies bancários e não só.

    Recordo muitas famílias se endividaram por lhes serem oferecidas, direi mesmo impostas por via da força da comunicação social, meios para realizarem sonhos, sem alguém ter alertado para os prejuízos delas mesmas e do país. Bem se sabe que quanto mais se consome, mais se inflaciona mas interessava e até julgo que interessa pois continua a perceber muita mensagem apelativa.

    Sobre as “Scuts”, desde sempre achei ser uma medida injusta o pagamento pois elas foram construídas para privilegiar quem não residia nas zonas periféricas que careciam de desenvolvimento e crescimento, invalidando assim a desertificação e libertando mais o litoral. Não esqueço que havia intenções de possibilitar o escoamento de produtos. Parece-me pois que tudo isso caiu no rol do esquecimento, em benefício do mais fácil para reter, não crescer… taxar, taxar de forma desmesurada.

    A nossa representatividade deixa há muito tanto a desejar!

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