Continua a não se interessar por política? Pense bem…


Neste começo de ano, um ano de eleições, escrevo em especial para aqueles que, teimosamente, continuam  a dizer que não se interessam por política e que, por isso, fazem questão de se alhear desse importante aspeto da nossa vida em comunidade, prescindindo de exercer um dos mais importantes direitos de que dispomos: o de votar.

Como sei que este tema os enfastia vou ser deliberadamente breve.

Apontarei, por isso, apenas duas situações bem atuais, uma com repercussões a nível mundial e outra com especial incidência no plano nacional, que tiveram origem em más escolhas dos eleitores.

A primeira, tem a ver com a vitória de George Bush para o lugar de Presidente dos Estados Unidos da América, no ano de 2000.

Concorrendo contra o democrata Al Gore, aquele republicano ganhou essas eleições de forma muito pouco convincente dado que o sistema eleitoral americano fez com que o resultado final ficasse dependente do resultado das eleições no Estado da Florida, relativamente ao qual, numa decisão muito controversa, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América impediu a continuação de uma recontagem de votos que poderia ter dado a vitória a Al Gore. Mas o que é importante reter é que, segundo os dados que foram oficialmente fixados, este último candidato terá perdido as eleições neste Estado de perto de 19 milhões de habitantes por 537 votos! Ou seja, tivessem votado os eleitores que se abstiveram de o fazer e o resultado podia ter sido bastante diferente.

Mas também muito diferente poderia ter sido o futuro dos Estados Unidos da América e do Mundo, incluindo o de muitos dos referidos abstencionistas.

É que, contrariamente a tudo o que aconselhava o bom senso, poucos anos depois, em 2003, George Bush lançou uma guerra contra o Iraque que desestabilizou todo o Médio Oriente, que está progressivamente a desestabilizar outras regiões, incluindo a Europa e que pode acabar por dar origem a um dos maiores problemas que a humanidade terá que enfrentar: o da propagação do radicalismo islâmico.

Ao lançar a referida guerra, ignorando todos os apelos ao bom senso, incluindo a maior manifestação mundial de sempre contra a mesma, em 15 de Fevereiro de  2003, que envolveu entre seis  e dez milhões de pessoas em mais de 800 cidades (o que deu origem a um registo no Guinness Book of World Records) e ao afastar do poder o ditador Saddam Hussein, George Bush fez ressurgir no Iraque os conflitos tribais a que a ditadura tinha posto fim, criando condições para a desagregação do país e para a atual expansão do Estado Islâmico.

Tivessem votado os abstencionistas nas eleições americanas de 2000 e tudo poderia ser bem diferente!

Mas olhemos agora para o nosso país, para a nossa política interna.

O que é que mais nos tem preocupado nos últimos anos? O que é que nos tem causado mais amarguras, mais apreensões, menos esperança num futuro melhor?

Certamente que todos, ou quase todos, me responderão que é a crise económica.

Pois bem, o que é que deu origem à atual situação económica de Portugal?

Não, não foi o atual Governo, apesar de muitos erros que possa ter cometido. Também não foi o Governo anterior, apesar de muito ter agravado a situação. Muito menos foi a Troika, chamada a intervir para impedir o colapso financeiro do nosso Estado. O que deu origem à atual situação foi a continuada eleição para os diversos órgãos do poder (fosse ele nacional, autárquico, ou regional) de um conjunto de indivíduos que foram para a política apenas para se servirem e não para servirem o Povo.

Perante a indiferença de grande parte da população, esses indivíduos criaram as suas teias de poder e de corrupção, a maior parte das vezes em comunhão de interesses com os grandes bancos nacionais, como o falido BES, canalizando recursos do Estado, que se endividou de forma nunca vista, para esses mesmos bancos, para empresas ligadas a esses governantes, para os seus familiares, amigos, protegidos e, obviamente para si próprios.

Convencidos de que nada podiam fazer contra essa situação, uma parte significativa dos portugueses alhearam-se da política, deixando o país completamente à mercê desses indivíduos.

Mas se em vez disso os portugueses tivessem procurado informar-se (e agora há tantos meios para o fazerem!…) e tivessem votado em políticos diferentes isto teria sido assim?

Já sei que a vossa resposta será a mesma de sempre, a de que os políticos são todos iguais.

Mas não são de facto. Quem tem sido igual na sua indiferença tem sido o povo português.

Ora digam-me lá, com honestidade, olhos nos olhos, quantos ideários políticos dos diferentes partidos que concorreram às eleições vocês conhecem? Sou até capaz de apostar que a maioria de vocês nem sequer sabe quantos e quais os partidos que concorreram às diversas eleições.

É que a nossa realidade política não se resume a meia dúzia de partidos e a meia dúzia de personalidades dentro desses partidos. Felizmente não nos tem faltado escolha. O que nos tem faltado é saber como usar o nosso direito de voto.

Olhemos para os países nórdicos, os países mais ricos do mundo e com melhor qualidade de vida. Já repararam que ali os governos de coligação é que são a regra?

É que lá, ao contrário daqui, os eleitores sabem como é importante a diversidade dentro das estruturas políticas e por isso dividem mais o seu voto e têm um sistema eleitoral diferente.

Já é a altura de começarmos a perceber isto e de começarmos a interessar-nos por ter bons políticos, exigindo a reforma do nosso sistema eleitoral e diversificando mais os nossos votos. Se continuarmos indiferentes à política, continuaremos também a ser explorados pelos grupos do costume. Não haja dúvidas sobre isso.

Bom Ano 2015!

2 comentários

  1. Eu sou desse grupo, como sabes, o grupo dos q acham q só mudam as moscas. Mas é por não ver alternativas de candidatos honestos. E se houvessem, rapidamente seriam corrompidos.

    Gostar

    1. Compreendo perfeitamente o teu ponto de vista tendo em conta a triste realidade deste país mas se não decidirmos deitar mãos à obra de mudar a situação ela nunca mais muda. Ao contrário de ti acredito que há pessoas que são mesmo incorruptíveis e não precisamos de ter muitas: basta ter algumas em pontos-chave.

      Gostar

Deixe uma resposta

Loja Lusa

Blog dedicado ao melhor de Portugal e dos produtos portugueses.

O Que Dizes Tu?!

Os olhos dizem o que as mãos pensam

Fujifilm Corporate Blog

Explore the world of Fujifilm

The Daily Post

The Art and Craft of Blogging

Desvio Colossal

Macroeconomia, Finanças Públicas & Economia portuguesa

No Reino da Dinamarca

Something is rotten in the State of Denmarke

Aventar

Expor ao vento. Arejar. Segurar pelas ventas. Farejar, pressentir, suspeitar. Chegar.

VAI E VEM

Não renunciarás à tua liberdade de expressão e de opinião

WordPress.com News

The latest news on WordPress.com and the WordPress community.